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domingo, 12 de dezembro de 2010

O Natal de 1910, em casa da minha trisavó







Quando eu era mais pequeno, a minha bisavó contava-me histórias antigas que a sua mãe lhe contava.
Disse-me ela que aquele Natal de 1910 tinha sido muito frio, em Trás-os-Montes. Dias antes, a sua mãe e as amigas tinham andado a apanhar musgo para fazerem o presépio. Depois, lá em casa, num canto da sala, construía-se o presépio. O pai da minha trisavó montava um estrado e as crianças começavam a pôr o musgo apanhado e as figurinhas do presépio. Todos os anos, era tradição comprar uma ou duas figuras de barro e, por isso, o presépio ia aumentando. No dia de Reis, as imagens eram guardadas com cuidado numa caixa de madeira entre a palha (não havia plástico!), para o próximo Natal.
Nessa altura, não se decorava a árvore de Natal. A minha bisavó disse-me que não havia luz e na noite de Natal, colocavam algumas velas acesas, espalhadas pelo presépio.
Na noite desse Natal, toda a família se sentou a uma grande mesa, na sala, a lareira esteve sempre a arder. Nessa noite, a comida foi melhorada: comeu-se bacalhau cozido com batatas e couves. À sobremesa, todos se deliciaram com as rabanadas, filhós, bolos de abóbora e aletria. Foi um autêntico manjar, pois não se comiam doces todos os dias!
Durante o serão, cantou-se em louvor do Deus Menino, contaram-se histórias fantásticas, comeu-se e bebeu-se e as crianças jogaram ao jogo do rapa ou às escondidas...
Depois, toda a gente foi à Missa do Galo, mesmo os mais pequenos. A minha trisavó contava que nessa noite de Natal, estava um frio de rachar e os mais pequenos preferiam ir para a cama, mas os pais da minha trisavó eram muito religiosos e queriam que toda a família se juntasse nessa noite especial. Essa missa era muito bonita, cantava-se, rezava-se e toda a aldeia se unia. Na missa desse ano, à meia-noite, ouviu-se um canto de um galo verdadeiro que anunciou o nascimento de Cristo.
No dia seguinte, as crianças levantaram-se cedo, pois tinham pedido um brinquedo ao Menino Jesus. A minha trisavó nunca mais se esqueceu da maravilhosa boneca de trapos que lhe ofereceram. Normalmente só recebia uma camisola de lã ou outra coisa útil.
Essa boneca tão desejada passou para a minha bisavó e foi com ela ao colo que ela me contou esta história.


Luís Miguel Nóbrega Rebelo, nº 18, 5º C

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